Emocionado, Marc Márquez abraça o troféu de campeão da MotoGP 2025 após a corrida em Motegi: o fim de uma longa espera para mostrar que ainda poderia ser o piloto campeão de antigamente.
Marc Márquez
sacramentou seu retorno ao topo da Motovelocidade com a conquista de seu 7º
título na classe rainha, domingo passado, na pista de Motegi, no Japão. O feito
o coloca ao lado de grandes mitos da categoria, como Valentino Rossi,
igualmente detentor de sete campeonatos, mas que poderá, a partir de agora, se
ver superado pelo espanhol, que não vê a aposentadoria como um destino no
horizonte próximo, muito pelo contrário.
Mas é bem verdade que Marc Márquez quase chegou perto de pensar nisso, diante das dificuldades enfrentadas nos últimos anos, desde o início da temporada de 2020, quando um tombo, que em tese tinha tudo para ser apenas mais um em sua já vitoriosa carreira na MotoGP, mudou tudo de lá para cá. Como o próprio Marc afirmou, até então, ele só conhecia a glória e o triunfo na competição. Já tinha sofrido alguns acidentes, mas até então, sempre teve sorte de não se machucar seriamente. Não foi o que aconteceu em Jerez, no início daquela temporada atribulada, iniciada tardiamente, em virtude das consequências da pandemia da Covid-19. O acidente tinha sido mais sério, mas tratável. O que complicou tudo foi a atitude do próprio Marc Márquez que, querendo retornar o mais breve à competição, não esperou nem uma semana para tentar voltar às pistas. A dor forte no braço operado, felizmente, o fez desistir de disputar a segunda corrida em Jerez naquele ano, o que por si só já deveria tê-lo feito sossegar, e esperar a ferida se curar com mais calma. Porém, em casa, se exercitando para tentar apressar a recuperação, aí sim exagerou na dose, entortando a peça de metal implantada para manter o osso na posição, o que o levou a uma segunda cirurgia, que não foi feita de forma adequada, gerando sequelas que o deixariam de fora de toda a temporada de 2020.
Como desgraça pouca é bobagem, foi preciso novas cirurgias para corrigir devidamente a situação, o que complicou sua participação nas temporadas de 2021 e 2022. Ao mesmo tempo, novos percalços com novas quedas, que até o fizeram sofrer de visão dupla, só atrapalharam o que já andava complicado, e o problema não era mais apenas a condição física de Marc, mas a forma da própria Honda, que não tinha mais a mesma competitividade de antes. Era um problema que já se avizinhava quando Márquez estava no auge: a moto era nervosa e difícil de controlar, algo que gerava reclamações de todos os demais pilotos que competiam com a moto nipônica. Mas, como Márquez ganhava corridas e campeonatos, a fábrica japonesa deu de ombros para esse feedback, ignorando-os plenamente. Só que quando ficou sem sua grande estrela, a marca ficou nua na MotoGP, e isso já em 2020.
Foi preciso repensar o comportamento da moto, mas isso se revelou uma tarefa complicada, pois ficaram mal acostumados com o sucesso avassalador que Marc conseguia com a moto, devido a seu talento incomum. Mas claro que, uma hora, a conta dessa dependência chegaria, e chegou com tudo. Na ânsia de tentar melhorar o protótipo, claro que a competitividade despencou, e Márquez, conhecido por levar a moto sempre ao limite, e muitas vezes, além dele, continuou forçando para obter o que ninguém mais conseguia. E isso o levou a sofrer vários tombos, o que poderia por em perigo sua recuperação após os desaires de 2020 e 2021. E a situação chegou a um ponto onde tudo ficou em dúvida: era Marc que não conseguia mais levar a moto ao limite, ou a moto que não tinha mais competitividade? Foram tantos problemas, acidentes, e outros percalços, que a própria continuidade da carreira do “Formiga Atômica” começou a ser posta em dúvida. E, mesmo que se aposentasse das pistas, já tinha uma carreira considerável, com nada menos do que 6 títulos, e inúmeras vitórias. Não seria nada anormal parar assim, e muitos ainda dariam como dever cumprido na carreira esportiva.
Na Gresini, Marc Márquez voltou a mostrar que ainda poderia voltar a ser um piloto vencedor, depois dos anos de ostracismo recentes.
Mas isso também
poderia significar que ele estaria acabado para a competição, incapaz de
disputar como nos velhos tempos. Marc, contudo, queria se provar o contrário,
até para ficar em paz consigo mesmo. Os esforços na temporada de 2022, com
direito a inúmeras quedas, tentando levar a moto novamente além dos limites,
não estavam dando os resultados que ele obtinha antes. Em 2023, agora
devidamente recuperado, e vendo que a situação da Honda parecia não levar a
lugar nenhum, com a marca japonesa batendo cabeça no desenvolvimento de uma
moto mais competitiva e menos arisca, onde até mesmo ele, forçando os limites,
invariavelmente só acabava no chão, ele tomou uma decisão ousada: rescindiu o
contrato que ainda tinha com os nipônicos, aceitando o desafio de defender uma
equipe satélite, no caso, a Gresini. A decisão tinha seus motivos: seu irmão
Álex já pilotava para a equipe, e acima de tudo, era um time satélite da
Ducati, a marca que estava dominando a MotoGP desde 2022. Não era a moto do
ano, mas era uma Ducati, um equipamento mais competitivo do que a Honda de
fábrica que ele tinha nas mãos até então. Foi um passo atrás para tentar novos
passos à frente na carreira, para ver se ainda poderia ser o velho Marc
vencedor, ou se estava de fato entrando na decadência como piloto de
competição. Se ele não conseguisse acompanhar o ritmo do irmão mais novo,
apesar deste já conhecer muito melhor a moto italiana, teria sido uma resposta
cabal de que seu tempo poderia ter de fato passado na motovelocidade.
E a aposta mais do que se pagou: ele voltou a dar show de pilotagem, mesmo com a moto do ano anterior, e voltou a vencer corridas. Ficou atrás apenas da dupla que disputou o título, Francesco Bagnaia e Jorge Martin, que tinham as motos do ano. Mesmo tendo de aprender as reações da Ducati, cujo comportamento era muito diferente das motos da Honda que sempre pilotara na década anterior, o que o levou a alguns percalços iniciais na primeira parte da temporada, não demorou para a “Formiga Atômica” recuperar toda a chama de competitividade que sempre o caracterizou, de modo que ele suplantou o próprio irmão dentro da Gresini. E esta sua performance chamou a atenção da direção da Ducati, que contrariando o planejamento inicial, resolveu promovê-lo para o time oficial da fábrica, preterindo Martin, que se tornaria campeão no fim do ano. Muitos questionaram a escolha da Ducati, em apostar em Márquez, que tinha um currículo vencedor e campeão, mas que poderia ser apenas o passado, enquanto Martin seria a aposta mais condizente para o futuro. As críticas tinham certo fundamento, apesar da excelente campanha de Márquez com a Gresini, levando em conta se ele seria capaz de repetir o brilho no time de fábrica.
Afinal, no mundo das competições do esporte a motor, o perigo sempre está à espreita, por mais dispositivos de segurança que sejam incorporados aos veículos de competição, ou aos circuitos onde as corridas são realizadas. Já vimos casos de pilotos que, depois de certos acidentes, nunca mais foram os mesmos. E aqui, ainda por cima, é competição de motos, onde os pilotos ficam muito mais expostos do que em um monoposto ou carro protótipo ou de turismo. Marc Márquez tinha razões suficientes para duvidar se ainda estaria à altura do que realizara antes. A campanha feita na Gresini ajudou a ver que a “Formiga Atômica” ainda estava em forma, agora, era a hora de confirmar isso de vez, com um equipamento capaz de levá-lo novamente à disputa do título na MotoGP, de onde andava ausente desde 2020.
Álex Márques precisava de um milagre para estender a disputa pelo título além do Japão, mas ainda faz sua melhor temporada na MotoGP.
E aí, claro, entravam
as especulações: ele teria a companhia de “Pecco” Bagnaia, bicampeão, e
vice-campeão da temporada de 2024. Prometia ser um duelo de grandes proporções
nas garagens do time italiano, onde se poderia calcular com mais exatidão se
Marc Márquez voltaria a ser aquele demolidor que por tantos anos assombrou os
rivais na MotoGP. Se ele não correspondesse às expectativas, o estrago indireto
havia sido feito: inconformado por não ser, mais uma vez, o escolhido da Ducati
para o time de fábrica, Jorge Martin bandeou-se para a rival Aprilia, e a
Pramac, principal time satélite da Ducati, rompeu com a marca italiana,
preferindo ir usar as motos da Yamaha em 2025, apesar do evidente prejuízo em
termos de competitividade. Ter feito a escolha errada poderia ter sido
desastroso para a Ducati em termos de imagem da marca, mesmo com seu domínio na
classe rainha nos últimos anos.
Mas Marc Márquez fez uma campanha absolutamente demolidora em 2025, não dando chances a ninguém na pista. Até a etapa de Mogeti, foram nada menos que 11 vitórias na temporada, sem contar as corridas Sprint. Nas corridas principais, ele abandonou apenas uma corrida, em Austin, no Texas, e terminou em 12º lugar em Jerez de La Frontera. No resto, foram apenas pódios, com 3 segundos lugares e um terceiro. A GP25 mostrou-se uma moto mais complicada que a de 2024, mas Márquez, lembrando seus bons tempos de Honda, onde conseguia se sobressair com uma moto competitiva, mas complicada, conseguiu vencer as adversidades e brilhar intensamente, ofuscando toda a competição. Que o diga Francesco Bagnaia, que desde o início do ano não conseguia apresentar a mesma performance do hexacampeão, e pouco a pouco, foi ficando para trás, sendo superado até mesmo por Álex Márquez, que faz uma temporada excelente com a Gresini, e é o vice-líder do campeonato. A esperada competição que todos esperavam ver dentro da equipe de fábrica praticamente não existiu, e Marc Márquez reinou sozinho no ano, coroando sua volta ao topo do Olimpo com todos os méritos. E ele mesmo afirmou que, por mais fácil que tenha parecido vencer tanto, nem sempre os triunfos foram fáceis. A GP25, de fato, não é uma moto tão fácil de se entender quanto a GP24, e em várias etapas, o “Formiga Atômica” precisou se empenhar a fundo para sair vencedor, e de fato, várias corridas foram decididas por margens bem pequenas, mostrando que o espanhol fez de fato a diferença, ainda mais se compararmos com as performances que Bagnaia vinha exibindo.
O acidente em Jerez, em 2020: o início de um período conturbado para o hexacampeão, que finalmente ficou para trás.
E ele conseguiu.
Voltou ao topo, como desejava, provando si mesmo que ainda poderia ser o mesmo
Marc Márquez de antes, mas agora, mais maduro, ciente de que há momentos em que
se pode forçar, e outros em que é preciso esperar, e ser paciente, algo
complicado para um piloto de competição, ainda mais em um esporte como a
motovelocidade, onde o limite está sempre por um fio, e erros podem ser
dramáticos, quando algo sai errado. Ele mesmo admite que sua pressa em retornar
à disputa em 2020 complicou tudo, e fez sua vida nos anos seguintes pender
entre o sofrimento e a incerteza. Ele afirma que foi um período conturbado da
vida, e que por um tempo, não imaginava como poderia sair dele, nem se o futuro
lhe era auspicioso, quanto mais retornar à competição no nível em que
demonstrou esse ano. Depois de seis anos do último título, Marc Márquez deu a
volta por cima, numa daquelas histórias de superação que deixam os fãs do
esporte encantados por sua perseverança, determinação, e humanidade, provando
que por mais difíceis que sejam certos desafios, sempre há a esperança de
superação, se nunca desistir, mesmo que, no meio do caminho, tenha que tomar
algumas decisões arriscadas.
De volta ao topo, Marc Márquez agora já é o alvo a ser batido em 2026. Após igualar o heptacampeonato de Valentino Rossi, ele tem tudo para ir além, e superar até mesmo Giacono Agostini, o grande campeão da motovelocidade. Mas falta combinar com os adversários. Se Francesco Bagnaia voltar a se sentir confortável na moto, talvez vejamos no próximo ano um embate de grandes proporções no time de fábrica da Ducati, que nos foi privado este ano. E, se as demais marcas conseguirem melhorar suas performances, os duelos podem ficar mais acirrados e difíceis, de modo que a Ducati pode perder sua atual supremacia na competição. Mas, com o “velho” Marc Márquez de volta, tão rápido e demolidor quanto antes, mas agora mais maduro e prudente, pode ser difícil impedi-lo de rumar a novas conquistas na MotoGP. Vamos ver o que acontece no próximo ano… Por agora, é o momento do espanhol comemorar sua mais do que volta ao círculo dos campeões da motovelocidade...
Afinal, um fim de semana perfeito para Bagnaia, com vitória nas duas provas do fim de semana no Japão. A meta agora é pelo menos ir atrás do vice-campeonato.
“Pecco” Bagnaia teve em Motegi o fim de semana que até então não tinha vivenciado na temporada 2025: fez a pole-position, e venceu tanto a corrida sprint quanto a prova principal, no domingo, marcando todos os 37 pontos possíveis. No último teste, em Misano, a Ducati parece ter conseguido encontrar soluções para o comportamento da moto que tirava a confiança do italiano, e ele mostrou na pista japonesa a classe e talento que fizeram dele bicampeão mundial. Mas o próprio Bagnaia reconhece que 2025 foi uma temporada perdida: tivessem encontrado as soluções que só agora, aparentemente foram implantadas em sua moto, ele poderia efetivamente ter brigado pelo título, mas não se abate: a meta agora é pelo menos ser vice-campeão, e embora a distância para Álex Marquez, o vice-líder, ainda seja grande, ainda temos cinco provas pela frente, com suas respectivas provas Sprints. No Japão, Bagnaia tirou 24 pontos da desvantagem para o piloto da Gresini, que não foi bem, mas será que tal panorama se repetirá? O próprio “Pecco” sabe que a missão é difícil, mas não impossível, e se continuar tendo nas provas finais o mesmo desempenho exibido em Motegi, a disputa está aberta, ainda mais para tentar recuperar o orgulho próprio, e terminar 2025 em alta. O triunfo impecável de Bagnaia em Motegi ajudou a afastar a ameaça de Marco Bezzecchi, que vinha se aproximando perigosamente na classificação, e poderia superar o bicampeão italiano, se persistisse os maus resultados. Teoricamente, um perigo a menos para Bagnaia, que poderá se concentrar em tentar alcançar Álex Márquez na classificação. Será que ele consegue? Essa história ainda vai dar o que falar...
A F-1 chegou a Singapura, e a expectativa é se Max Verstappen continuará o bom momento iniciado na Itália, e mantido no Azerbaijão, onde o tetracampeão não apenas marcou a pole-position, mas venceu as duas corridas de forma categórica. A McLaren, que poderia ter garantido o campeonato de construtores na prova de Baku, tem em Marina Bay nova chance de fechar a conquista de mais um título de construtores, e com grande antecedência. Já em relação ao campeonato de pilotos, Oscar Piastri, mesmo depois do erro cometido na última corrida, ainda lidera o campeonato com relativa folga, diante de Lando Norris ter tido uma atuação morna, e ter ficado longe da vitória, perdendo a chance de demolir de forma contundente a vantagem de pontos do australiano. Mas fica a dúvida em torno de Verstappen, que em caso de nova vitória, poderia até entrar, ainda que de forma remota, na briga pelo título da temporada, ameaça que pode até ser pequena, face à dianteira da dupla do time inglês na competição, mas que não pode ser menosprezada. O piloto holandês não é conhecido por desperdiçar oportunidades, mesmo as menores possíveis, enquanto pelo lado da McLaren, seus pilotos tem cometido vários erros no ano até aqui, com destaque para Norris, que tem errado até mais do que seria aceitável para um postulante ao título. A hipótese pode até parecer forçada, mas ainda temos muitas corridas na temporada, de modo que seria prematuro dizer que nada pode acontecer. A Red Bull parece ter conseguido acertar a janela de acerto do RB21, deixando-a um pouco mais flexível, de modo que o desempenho do carro melhorou. Mas Singapura pode significar um desafio mais complicado para o time dos energéticos, e é uma das pistas onde Max jamais venceu. Mas a Red Bull, por outro lado, já venceu várias vezes na pista da cidade-estado do sudeste asiático, com Sebastian Vettel (2011, 2012, e 2013), e com Sergio Perez (2022). Os tempos, porém, são outros. Será que o time dos energéticos conseguirá surpreender novamente, com Max? Os treinos de hoje foram promissores, mas vamos ver o resto do fim de semana, especialmente amanhã, na classificação..