sexta-feira, 14 de novembro de 2025

TÍTULO ENCAMINHADO?

Lando Norris foi a grande estrela do fim de semana em Interlagos: pole na prova sprint e na principal, além de vitória nas duas corridas, consolidando sua posição de novo líder do campeonato e cada vez mais próximo de ser campeão.

            O Grande Prêmio do Brasil (São Paulo é o caralho, me desculpem) foi mais uma vez uma grande corrida, e se não decidiu o título da temporada 2025 da Fórmula 1, certamente deixou as coisas bem encaminhadas. E o grande vencedor, mais uma vez, foi Lando Norris, que venceu tanto a corrida sprint quanto a corrida de domingo, e ainda por cima anotando as poles de ambas as provas. E saindo de Interlagos com uma vantagem cada vez mais confortável, em um panorama que poucos poderiam imaginar alguns meses atrás. E o maior derrotado do fim de semana foi, mais uma vez, Oscar Piastri, que viu Norris abrir vantagem na classificação cada vez maior, agora com 3 provas e uma sprint para fechar a competição.

            Lando abriu 24 pontos de distância para Piastri, e com 83 pontos ainda em jogo, é forçoso dizer que tudo está decidido, mas diante do andamento apresentado pelo australiano nas últimas corridas, podemos dizer que sua tarefa não é apenas complicada para tentar reverter o revés de ter caído para a vice-liderança, mas agora ficar ainda mais na alça de mira d Max Verstappen, que novamente, deu um verdadeiro show na corrida de domingo, não tão épica quanto a do ano passado, mas igualmente representativa do que somente o holandês é capaz de proporcionar na F-1 atual. E o pior, é que estando apenas 25 pontos atrás de Piastri, se as expectativas do quinto título eram remotas, mas ainda possíveis, agora ainda se mantém, pelo menos com as chances de ser vice-campeão, e Piastri que coloque as barbas de molho, porque Max vem chegando, e sem pedir licença para ultrapassar quem estiver pela frente… Ele simplesmente virá, e passará, se houver a oportunidade… E acreditem, elas vêm aparecendo…

            Afinal, Verstappen largou dos boxes, diante da Red Bull ter violado o regime de parque fechado, fazendo ajustes no acerto do carro, além de usar um propulsor novo em folha. E Max veio com tudo na corrida, da mesma maneira que fez no ano passado, no meio da chuva que caía sobre o circuito paulistano. E olhe que o holandês chegou até mesmo a liderar a prova, antes de fazer sua parada de pneus, e olhe que ele ainda teve um pneu furado durante a corrida. O tetracampeão só não foi o 2º colocado porque Andrea Kimi Antonelli fez a corrida de sua vida, segurando Max com unhas e dentes, garantindo o pódio e o melhor resultado de sua primeira temporada na F-1. Já Piastri, em contrapartida, teve um final de semana novamente desesperador para quem era, até o fim de agosto, o favorito disparado ao título da temporada.

            O australiano bateu logo no início da corrida sprint, perdendo a chance de marcar pontos que, mesmo poucos, eram importantes, enquanto viu Norris vencer a corrida curta e ganhar mais 8 pontos de vantagem, ampliando para 9 sua liderança momentânea na competição. Haveria a chance de uma redenção e minimização dos prejuízos no domingo, mas Piastri novamente já começou no contrapé, deixando Norris largar na pole da prova, e ainda por cima tendo um enrosco logo no início da corrida que lhe valeu uma punição duvidosa de 10s que complicou sua corrida, e o fez terminar em 5º lugar, um resultado não tão ruim, se o vencedor não fosse novamente Norris. O fato de ter terminado a corrida embutido em George Russell revela que ele teria chegado normalmente em 2º lugar, e talvez até discutido o triunfo com Lando, mas o “se” não conta. É preciso obter resultados reais e não possibilidades. Ele ainda tem como reagir, mas isso já era mencionado há 3 corridas atrás, e o que vimos desde então tem sido a perda de oportunidades, azares, e outros percalços caírem justo no colo de Oscar, alguns evitáveis, outros não.

Oscar Piastri foi novamente o grande derrotado do fim de semana, com acidente na sprint e atuação apenas mediana na corrida principal, e já vê Max Verstappen ameaçando até seu vice-campeonato, na pior das hipóteses.

            Lando Norris cresce no momento crítico, e já são duas vitórias com uma performance de autoridade, como convém a um piloto que precisa ser campeão mundial. O inglês já havia anotado a pole na etapa anterior, no México, e apesar de fortemente acossado na largada pelos rivais, não desperdiçou a pole-position e seguiu para uma vitória firme e decidida. E no final de semana passado repetiu a dose em Interlagos. Foram desempenhos fortes e com vontade, como Lando estava devendo na temporada atual, para se firmar de vez na luta pelo título. Ele só não liderou de ponta a ponta por causa das estratégias de pneus, mas a rigor não foi ameaçado de fato nenhuma vez, exceto na largada, pela proximidade óbvia dos concorrentes ao redor, mas da mesma maneira como havia feito na Cidade do México, não se deixou intimidar e arrancou para a liderança, de modo que só um improvável problema técnico poderia arruinar suas chances. Mas isso não aconteceu, e o inglês segue cada vez mais favorito ao título.

            Era a reação que a McLaren precisava para “matar” a escalada de Max Verstappen, que vinha em um ritmo que estava assustando o time de Woking, a rigor, não pelo fato de o carro papaia ter perdido performance exatamente, apenas que os acontecimentos não estavam se encaixando como deveriam nos fins de semana de GPs, e com isso, fornecendo chances à concorrência de se aproximar, em especial Verstappen e a Red Bull, que até a proca de Austin, começavam a ver Max Verstappen se aproximar cada vez mais no retrovisor, mesmo com a vantagem acumulada até então. Verdade que o modelo RB21 mudou radicalmente depois das férias de versão, com o time, agora coordenado por Laurent Mekies, sabendo ouvir melhor os pilotos (ou melhor, apenas Max Verstappen), conseguiu corrigir vários problemas no carro, o que permitiu a Max voltar a brigar na frente com um pouco mais de consistência, e com isso, assombrar a dupla da McLaren, que vinha sentindo o golpe, pelo menos até o GP dos EUA, em Austin. Mas, mesmo sem atualizações para o restante da temporada, o modelo MCL39 da McLaren nunca deixou de ser o melhor carro da competição, mas pudemos ver que, se as condições não se encaixavam com perfeição, os triunfos iriam embora, e estavam indo por erros de estratégia, dos pilotos, azares alheios, etc.

Azares da Ferrari em Interlagos fizeram o time italiano ser superado pela Red Bull no Campeonato de Construtores. Dá para piorar...?

            Logo que tudo isso é competição, e nunca dá para esperar que tudo corra às mil maravilhas, mas a McLaren estava se mostrando pródiga na arte de desperdiçar oportunidades também, ainda mais quando um dos concorrentes mais perigosos chegou perto, e começou a criar asas potenciais de ameaçar um título que parecia mais do que garantido até a prova da Holanda. E, por isso mesmo, atenção redobrada do time, e especialmente, dos pilotos, para evitar esses percalços, tanto quanto possível. A partir do México, Norris mostrou ter compreendido a lição. Já Piastri, mesmo que tenha entendido a urgência da situação, não conseguiu aplicar a mesma eficiência, ou sequer repetir a performance que vinha demonstrando na primeira metade da temporada, e o resultado é o que estamos vendo: não apenas o australiano acabou desalojado da liderança, como agora se vê ameaçado até mesmo por Verstappen, e se bobear, não apenas dá adeus às chances ainda viáveis de ser campeão este ano, como pode ver comprometido até mesmo o sonho do vice-campeonato, o que seria ruim para o time de Woking, que fez sua melhor temporada em quase duas décadas, mas pior ainda para Piastri, que ao meio do ano pintava como o grande e talvez até inesperado favorito ao título, e agora, desandou de forma inexplicável...

            As cartas ainda estão na mesa. As de Verstappen estão quase esgotadas, mas ele ainda pode dar alguns sustos; as de Piastri diminuíram, mas ainda estão presentes, cabendo apenas a ele saber armar as jogadas; e Norris agora está com a mão mais recheada, e se mostrando com firmeza no comando do carteado, mas podendo ser surpreendido se não tomar cuidado com alguns reveses e contragolpes, o que ele não só conseguiu evitar nas duas últimas provas como ampliar ainda mais o seu domínio. Ele tem tudo para manter o controle da situação, enquanto aos outros, só resta partirem para o ataque com tudo, se ainda quiserem se manter firmes no jogo. Resta ver agora quem continuará dando as cartas nas partidas finais...

 

 

Gabriel Bortoleto foi o palco das atenções da torcida brasileira em Interlagos, que pela primeira vez desde a aposentadoria de Felipe Massa da categoria máxima do automobilismo, tinha um conterrâneo no grid. Mas a participação do piloto da Sauber foi um verdadeiro desastre no fim de semana. Além de não conseguir se classificar bem para a corrida sprint, Gabriel ainda sofreu um forte acidente quando disputava posição ao fim da prova curta, o que comprometeu totalmente sua classificação para a corrida de domingo, só não largando em último porque Esteban Ocón e Max Verstappen largaram dos boxes, mas o acidente comprometeu as chances de conseguir um bom acerto para o carro, o que indicava que sua corrida seria complicada. Mas Bortoleto nem teve chance de disputar a prova no domingo: el acabou se enroscando em um incidente logo na largada, bateu, e ficou por ali mesmo. E viu Nico Hulkenberg chegar aos pontos com um belo 9º lugar na prova, indicando o que poderia ter almejado, não fosse o azar, e seus erros próprios. Melhor sorte no próximo ano. Gabriel não foi o primeiro brasileiro a ter um desempenho pífio e um resultado desalentador na etapa brasileira. Outros brasileiros que não conseguiram ir bem em nossa corrida caseira foram Wilsinho Fittipaldi (1973, com Brabham), José Carlos Pace (1973, com Surtees), Alex Dias Ribeiro (1977, com March), Nelson Piquet (1979, com Brabham), Chico Serra (1981, com a Fittipaldi), Raul Boesel (1982, com March), Ayrton Senna (1984, com Toleman), Maurício Gugelmin (1988, com March), Roberto Moreno (1989, com Coloni), Christian Fittipaldi (1992, com a Minardi), Rubens Barrichello (1993, com a Jordan), Ricardo Rosset (1996, com a Footwork), Tarso Marques (1996, com a Minardi), Ricardo Zonta (1999, com a BAR), Luciano Burti (2001, com Jaguar), Enrique Bernoldi (2001, com Arrows), Felipe Massa (2002, com Sauber), Antonio Pizzonia (2003, com Jaguar), Nelsinho Piquet (2008, com Renault), e Lucas Di Grassi (2010, com a Virgin). Desalentador, mas nada extraordinário. Bola para frente, e que tente terminar o ano com a moral em alta...

Gabriel Bortoleto: pancada violenta no final da prova sprint e novo acidente logo no início da corrida principal no domingo. Uma estréia de impacto, mas não no sentido positivo da expressão... 

 

 

Reginaldo Leme, que já havia sido homenageado pela FIA anos atrás pela longevidade de presenças em Grandes Prêmios, foi novamente homenageado pelo conjunto de sua obra jornalística em prol da categoria máxima do automobilismo, onde iniciou sua carreira de cobertura no distante ano de 1972: recebeu do próprio CEO da FOM/Liberty Media, Stefano Domenicalli, uma credencial vitalícia que lhe dá acesso a todos os paddocks da F-1 pelo mundo inteiro, caso resolva estar presente a qualquer corrida. Algo que teoricamente ficará mais difícil daqui em diante, uma vez que ele até já formalizou sua “despedida” do GP brasileiro em transmissão televisiva, uma vez que as transmissões da F-1 voltam no ano que vem para a TV Globo, que não irá manter ninguém da atual equipe que cuida das transmissões da competição na Bandeirantes, optando por nomes de seu próprio quadro de funcionários. Como o acordo com a Globo é de 3 anos, válidos até o final de 2028, se não for renovado, Reginaldo deverá deixar de participar em definitivo de transmissões de TV a partir de 2026, até porque o jornalista acaba de completar 80 anos. Reginaldo ainda é editor do anuário Automotor Esporte, que publica desde 1993, e mantém podcasts e postagens em redes sociais, com apresentações solo, ou em parceria com outros profissionais, onde continuará certamente a comentar sobre a F-1, sendo que ele continuará ligado ao automobilismo, muito provavelmente comentando as demais categorias de competição que ainda estarão sob contrato de transmissão da Bandeirantes…

 

 

A etapa brasileira da Fórmula 1 bateu seu recorde de público, com mais de 303 mil visitantes no final de semana de GP, durante seus três dias, um incremento de público razoável em relação à marca obtida no ano passado, quando bateu pouco mais de 291 mil visitantes. E o tempo bom ajudou, não tendo chuva durante as atividades do final de semana, embora tenha chovido forte durante a madrugada. Uma marca a ser comemorada, sem sombra de dúvida alguma…

Mais de 303 mil pessoas estiveram em Interlagos no fim de semana de GP: novo recorde de público para a corrida brasileira.

 

 

E Franco Colapinto ganhou sobrevida na Alpine, que anunciou aqui no Brasil a renovação do contrato do piloto argentino para a próxima temporada, se bem que, sabe-se lá até quando. Um ponto decisivo deve ter sido o maior aporte do Mercado Livre, empresa de e-commerce, que apóia o piloto argentino, e que nos últimos GPs, vem até estampando a asa traseira dos carros do time francês, indicando que Flavio Briatore provavelmente viu mais esse bônus do que a performance do piloto na pista, em que pese Franco ter tido algumas boas atuações, andando até próximo, ou à frente de Pierre Gasly em algumas provas recentes, embora o carro continue sendo o pior do grid, e não permita muitas satisfações aos pilotos. Especulava-se que Paul Aron já estava sendo fortemente sondado para virar titular em 2026, mas como o piloto não teria conseguido reunir patrocínio suficiente para fazer frente ao que Colapinto traz, ele teria perdido a disputa, da mesma maneira como Jack Doohan até tentou reaver a vaga, e quase teria conseguido, não fosse o aumento do aporte financeiro dos patrocinadores do argentino. Os torcedores portenhos terão motivos para continuar torcendo nas pistas da F-1 no próximo ano, portanto. Contudo, é melhor Franco ficar esperto, porque se outro piloto surgir com mais cacife financeiro, a vantagem que ele dispõe agora pode não ser suficiente para garanti-lo na vaga, e quem conhece o cretino que Briatore é, não poderá deixar de concordar que a manutenção de Franco foi mais pelo patrocinador do que pelo piloto propriamente, sendo que para alguns, a renovação de Colapinto já foi até surpreendente, dado o histórico do dirigente italiano descartar pilotos a seu bel prazer..

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

ARQUIVO PISTA & BOX – AGOSTO DE 2000 – 11.08.2000

            Hora de voltar com um de meus antigos textos, e esta coluna foi publicada no dia 11 de agosto de 2.000, às vésperas do Grande Prêmio da Hungria daquele ano na temporada da F-1. Muito se falava da vitória espetacular de Rubens Barrichello na Alemanha na etapa anterior, mas como a jogar um balde de água fria nas expectativas de todos, Lucca de Montezemolo, então presidente da Ferrari à época, declarou que o brasileiro não disputaria o título, o que seria exclusividade de Michael Schumacher, e coincidência ou não, Barrichello começou a ter problemas que surgiam só com ele, ou o brasileiro não conseguia andar mais perto do então bicampeão alemão, o que geraria, claro, muitas teorias (ou não) de conspirações de que o time italiano desfavorecia Rubinho internamente. É um assunto que até hoje suscita discussões, de qual seria a “verdadeira” diferença entre as capacidades de Michael Schumacher e as de Barrichello, porque, pelo status de favorecimento da Ferrari ao alemão, o que deveria ser natural de Michael ser melhor que Rubens certamente acabou meio exacerbado. Talvez nunca saibamos a verdade do que rolou na política interna a portas fechadas naqueles dias... De resto, alguns tópicos rápidos sobre acontecimentos recentes no mundo da velocidade naquela semana, com alguns comentários. Então, uma boa leitura a todos, e em breve trago mais textos antigos aqui...

DE VOLTA À PISTA

            Chegou a hora do Grande Prêmio da Hungria, uma prova que, geralmente oferece boas emoções na pista do travado circuito de Hungaroring. O pessoal da F-1 chegou a Budapeste, a bela capital húngara ainda com as imagens da espetacular vitória de Rubens Barrichello no GP da Alemanha, há duas semanas atrás. E o assunto continua rendendo muito o que falar, no bom e no mal sentido.

            Para começar, falemos das coisas boas. Rubinho começa a capitalizar com a sua vitória na Alemanha, tanto que a Ferrari, a partir deste GP, estará com dois carros- reserva nos boxes, para atender a seus dois pilotos, e garantir que nenhum deles passe o que Rubens passou no treino de classificação da prova germânica. Este é um tratamento que nem mesmo Eddie Irvinne conseguiu ano passado, mesmo depois de ter sido a única esperança da equipe por quase meia temporada, depois do acidente que tirou Schumacher da corrida ao título. A vitória de Rubinho foi amplamente comemorada por toda a Itália e não há como negar que, para os italianos, é muito mais efusivo torcer para Barrichello, que tem ascendência italiana, do que pelo frio e gélido Schumacher. É aí que as coisas começam a complicar.

            Como que para esfriar os ânimos de todo mundo, Luca de Montezemolo, o presidente da Ferrari, já andou declarando em alto e bom tom que a meta da escuderia é fazer Michael Schumacher chegar ao título, e que seus pilotos, enquanto ele for o presidente da escuderia, não irão disputar nada entre si. Lógico que a vitória de Rubinho, mesmo espetacular, não iria mudar muito o “status quo” da escuderia italiana, mas declarar isso de maneira tão incisiva acabou pegando mal. Muita gente não gostou da atitude de Montezemolo, inclusive boa parte da imprensa especializada, que passou a nutrir, ainda que no íntimo, uma boa parte de antipatia pela equipe italiana, a mais carismática da F-1. Isso, aliado a novas declarações de Schumacher sobre Barrichello não ser tão rápido quanto ele, e à política aberta da McLaren de permitir que seus pilotos lutem o quanto puderem na pista, e até mesmo entre eles, privilegiando mais a esportividade, começam a resultar em uma fama negativa para a Ferrari que a escuderia, com certeza, não merece, mas pelas atitudes que vem tomando, poderia servir para se tomar mais vergonha na cara.

            Há muito tempo eu já dizia que era um erro uma equipe dar privilégio total a um só de seus pilotos. A Benetton fez isso com Schumacher, e depois que o alemão saiu, o time nunca mais foi o mesmo. A Ferrari estava seguindo mesmo caminho, mas depois de se ver privada de seu piloto em metade da temporada do ano passado, tinha que aprender o risco que corria. O time italiano aprendeu, mas ainda escorrega nos velhos hábitos.

            Lógico, Schumacher ainda é o primeiro piloto do time, e a vitória de Rubinho deveria servir para, no mínimo, mostrar à Ferrari que o time pode contar com ele para qualquer eventualidade. E, nas últimas corridas, Rubens tem carregado a Ferrari sozinho praticamente. São 3 corridas consecutivas que Schumacher não pontua, enquanto Rubinho pontuou em todas subindo ao pódio. Se levarmos em conta as últimas 5 corridas, os resultados são ainda mais favoráveis ao piloto brasileiro. Nas últimas 5 corridas Rubinho marcou 30 pontos, contra apenas 10 de Schumacher. É certo o time ainda ter a preferência pelo alemão, pois ele ainda lidera o campeonato e, teoricamente, é o piloto mais forte para enfrentar a concorrência da McLaren, mas denegrir a imagem de Barrichello publicamente como Montezemolo e Schumacher fizeram só complica as coisas. Pelo que Montezemolo disse, ficou a impressão de que Rubinho apenas “cumpriu a obrigação”, o que é pouco comparando-se o que ele fez na Alemanha. Pelo lado de Schumacher, ao se dizer mais rápido do que Rubinho, ele simplesmente rebaixou seu companheiro de equipe. Senna, quando tinha a companhia de Gerhard Berger na McLaren, nunca disse tal coisa, e nem precisava, mas nunca ter dito isso significava ter respeito também por Berger, que se não era como Senna, não podia ser taxado de lento. Com Rubinho e Schumacher é praticamente a mesma coisa. Schumacher é mais piloto que Barrichello, em consenso comum, mas isso não quer dizer que Barrichello não seja tão rápido quanto o alemão, o que o brasileiro já provou em várias vezes nesta temporada, ao pilotar praticamente tão rápido quanto Schumacher em algumas corridas. E, se lhe faltou sorte no início da temporada, Rubinho agora está resgatando o tempo perdido com sua regularidade. Está apenas 10 pontos atrás de seu companheiro de equipe e, depois do que foi feito nestes últimos dias, com certeza o que aumentou de gente torcendo intimamente para Schumacher “se danar” pelas suas declarações arrogantes certamente não pode ser definido nesta coluna. Schumacher não prima pelo bom mocismo entre os pilotos, os quais, aliás, vivem meio às turras com o alemão, como têm provado as recentes declarações de Jacques Villeneuve e David Coulthard à imprensa.

            Por isso, e muito mais, a torcida para que o piloto brasileiro inicie uma nova e vitoriosa fase em sua carreira na F-1 já a partir deste domingo, certamente aumentou exponencialmente. A primeira vitória certamente já ajudou Rubinho a ficar mais relaxado e calmo para fazer o seu trabalho. E o brasileiro sabe que, com paciência, outras oportunidades surgirão. Pode não ser na Hungria que veremos uma nova vitória de Barrichello na F-1, mas com certeza, Rubinho entra na pista hoje com outros olhos, e com sentimentos diferentes dos quais tinha quando entrava para os primeiros treinos oficiais dos GPs de anteriormente.

            É hora de voltar à pista. E que venham novos triunfos. A torcida por Barrichello conseguir mais é grande, e ela não é só brasileira, mas de boa parte da F-1, que precisa de novos ídolos com carisma, coisa que Schumacher até agora não conseguiu ter, pelo menos entre os não-germânicos...

 

 

Começam hoje também os treinos para o Grande Prêmio de Mid-Ohio, em Lexington, Estado de Ohio, nos Estados Unidos. É a volta da categoria aos circuitos mistos, o que pode significar uma nova virada para os pilotos brasileiros na categoria, que costumam se dar bem neste tipo de circuito. Já temos 5 vitórias brasileiras no campeonato e estamos firmes na luta pelo título. Mas a parada ainda é dura, e dificilmente se decidirá antes do final. Faltam nada menos do que 8 corridas para o encerramento do certame, e equilibrado como está, vários pilotos ainda estão tecnicamente na luta pelo título do ano 2000. Emoção é o que não vai faltar.

 

 

A CART divulgou sua prévia de calendário para o ano 2001. Como já era esperado, o mundial do ano que vem terá nada menos do que 22 corridas, um recorde na categoria nos últimos tempos. A maior novidade é que o GP do Brasil praticamente irá abrir a temporada, sem falar que a CART finalmente irá correr no Velho Continente, com etapas em ovais na Inglaterra e na Alemanha. Ainda faltam detalhes para serem decididos, mas tudo indica que a CART segue firme para o que deve ser sua expansão máxima pelo mundo, com uma etapa pelo menos em cada parte do mundo. O México também irá ter uma etapa.

 

 

Enquanto isso, começam a se delinear as feições de uma nova competição automobilística no Velho Continente, nas feições de uma categoria paralela à F-1, que terá o nome de Premier 1 GP, com participação dos times de futebol europeus. Com 12 corridas estimadas, a categoria correria com chassis Dallara de série, com motor Judd V-10 para todos os monopostos, de forma a tornar ainda mais primordial a capacidade do piloto. Melhor ainda é o fato de que esta nova categoria querer utilizar os circuitos “abandonados” pela F-1 atual, pois poderiam ser revitalizados. Muitos saudosistas da velha época da F-1 com certeza gostariam de ver estes circuitos em uso novamente. A lista é grande e tem alguns nomes de peso, como Zandvort, Donnington Park, Estoril, Jerez de La Fronteira, Dijon-Prenois, Zolder, Magny-Cours(a se confirmar o retorno do Grande Prêmio da França para Paul Ricard já em 2001), etc. Os manda-chuvas desta nova categoria dizem que já consultaram a FIA e tudo está OK para a sua efetivação. Mas, conhecendo Bernie Ecclestone, quero ver para crer. De qualquer maneira, os ideais da nova categoria, que privilegiar o talento dos pilotos e não a tecnologia de seus carros(por isso o fato de serem todos basicamente iguais) deve ser um bom começo, embora isso não signifique desempenhos parelhos, pois vai depender da qualidade das equipes também. Mas, de qualquer forma, é uma nova oportunidade de termos mais uma categoria automobilística. Se vai tentar rivalizar com a F-1, só o tempo dirá..