O Grande Prêmio do
Brasil (São Paulo é o caralho, me desculpem) foi mais uma vez uma grande
corrida, e se não decidiu o título da temporada 2025 da Fórmula 1, certamente
deixou as coisas bem encaminhadas. E o grande vencedor, mais uma vez, foi Lando
Norris, que venceu tanto a corrida sprint quanto a corrida de domingo, e ainda
por cima anotando as poles de ambas as provas. E saindo de Interlagos com uma
vantagem cada vez mais confortável, em um panorama que poucos poderiam imaginar
alguns meses atrás. E o maior derrotado do fim de semana foi, mais uma vez,
Oscar Piastri, que viu Norris abrir vantagem na classificação cada vez maior,
agora com 3 provas e uma sprint para fechar a competição.
Lando abriu 24 pontos de distância para Piastri, e com 83 pontos ainda em jogo, é forçoso dizer que tudo está decidido, mas diante do andamento apresentado pelo australiano nas últimas corridas, podemos dizer que sua tarefa não é apenas complicada para tentar reverter o revés de ter caído para a vice-liderança, mas agora ficar ainda mais na alça de mira d Max Verstappen, que novamente, deu um verdadeiro show na corrida de domingo, não tão épica quanto a do ano passado, mas igualmente representativa do que somente o holandês é capaz de proporcionar na F-1 atual. E o pior, é que estando apenas 25 pontos atrás de Piastri, se as expectativas do quinto título eram remotas, mas ainda possíveis, agora ainda se mantém, pelo menos com as chances de ser vice-campeão, e Piastri que coloque as barbas de molho, porque Max vem chegando, e sem pedir licença para ultrapassar quem estiver pela frente… Ele simplesmente virá, e passará, se houver a oportunidade… E acreditem, elas vêm aparecendo…
Afinal, Verstappen largou dos boxes, diante da Red Bull ter violado o regime de parque fechado, fazendo ajustes no acerto do carro, além de usar um propulsor novo em folha. E Max veio com tudo na corrida, da mesma maneira que fez no ano passado, no meio da chuva que caía sobre o circuito paulistano. E olhe que o holandês chegou até mesmo a liderar a prova, antes de fazer sua parada de pneus, e olhe que ele ainda teve um pneu furado durante a corrida. O tetracampeão só não foi o 2º colocado porque Andrea Kimi Antonelli fez a corrida de sua vida, segurando Max com unhas e dentes, garantindo o pódio e o melhor resultado de sua primeira temporada na F-1. Já Piastri, em contrapartida, teve um final de semana novamente desesperador para quem era, até o fim de agosto, o favorito disparado ao título da temporada.
O australiano bateu logo no início da corrida sprint, perdendo a chance de marcar pontos que, mesmo poucos, eram importantes, enquanto viu Norris vencer a corrida curta e ganhar mais 8 pontos de vantagem, ampliando para 9 sua liderança momentânea na competição. Haveria a chance de uma redenção e minimização dos prejuízos no domingo, mas Piastri novamente já começou no contrapé, deixando Norris largar na pole da prova, e ainda por cima tendo um enrosco logo no início da corrida que lhe valeu uma punição duvidosa de 10s que complicou sua corrida, e o fez terminar em 5º lugar, um resultado não tão ruim, se o vencedor não fosse novamente Norris. O fato de ter terminado a corrida embutido em George Russell revela que ele teria chegado normalmente em 2º lugar, e talvez até discutido o triunfo com Lando, mas o “se” não conta. É preciso obter resultados reais e não possibilidades. Ele ainda tem como reagir, mas isso já era mencionado há 3 corridas atrás, e o que vimos desde então tem sido a perda de oportunidades, azares, e outros percalços caírem justo no colo de Oscar, alguns evitáveis, outros não.
Lando Norris cresce no
momento crítico, e já são duas vitórias com uma performance de autoridade, como
convém a um piloto que precisa ser campeão mundial. O inglês já havia anotado a
pole na etapa anterior, no México, e apesar de fortemente acossado na largada
pelos rivais, não desperdiçou a pole-position e seguiu para uma vitória firme e
decidida. E no final de semana passado repetiu a dose em Interlagos. Foram
desempenhos fortes e com vontade, como Lando estava devendo na temporada atual,
para se firmar de vez na luta pelo título. Ele só não liderou de ponta a ponta
por causa das estratégias de pneus, mas a rigor não foi ameaçado de fato
nenhuma vez, exceto na largada, pela proximidade óbvia dos concorrentes ao
redor, mas da mesma maneira como havia feito na Cidade do México, não se deixou
intimidar e arrancou para a liderança, de modo que só um improvável problema
técnico poderia arruinar suas chances. Mas isso não aconteceu, e o inglês segue
cada vez mais favorito ao título.
Era a reação que a McLaren precisava para “matar” a escalada de Max Verstappen, que vinha em um ritmo que estava assustando o time de Woking, a rigor, não pelo fato de o carro papaia ter perdido performance exatamente, apenas que os acontecimentos não estavam se encaixando como deveriam nos fins de semana de GPs, e com isso, fornecendo chances à concorrência de se aproximar, em especial Verstappen e a Red Bull, que até a proca de Austin, começavam a ver Max Verstappen se aproximar cada vez mais no retrovisor, mesmo com a vantagem acumulada até então. Verdade que o modelo RB21 mudou radicalmente depois das férias de versão, com o time, agora coordenado por Laurent Mekies, sabendo ouvir melhor os pilotos (ou melhor, apenas Max Verstappen), conseguiu corrigir vários problemas no carro, o que permitiu a Max voltar a brigar na frente com um pouco mais de consistência, e com isso, assombrar a dupla da McLaren, que vinha sentindo o golpe, pelo menos até o GP dos EUA, em Austin. Mas, mesmo sem atualizações para o restante da temporada, o modelo MCL39 da McLaren nunca deixou de ser o melhor carro da competição, mas pudemos ver que, se as condições não se encaixavam com perfeição, os triunfos iriam embora, e estavam indo por erros de estratégia, dos pilotos, azares alheios, etc.

Azares da Ferrari em Interlagos fizeram o time italiano ser superado pela Red Bull no Campeonato de Construtores. Dá para piorar...?
Logo que tudo isso é
competição, e nunca dá para esperar que tudo corra às mil maravilhas, mas a
McLaren estava se mostrando pródiga na arte de desperdiçar oportunidades
também, ainda mais quando um dos concorrentes mais perigosos chegou perto, e
começou a criar asas potenciais de ameaçar um título que parecia mais do que
garantido até a prova da Holanda. E, por isso mesmo, atenção redobrada do time,
e especialmente, dos pilotos, para evitar esses percalços, tanto quanto
possível. A partir do México, Norris mostrou ter compreendido a lição. Já
Piastri, mesmo que tenha entendido a urgência da situação, não conseguiu
aplicar a mesma eficiência, ou sequer repetir a performance que vinha demonstrando
na primeira metade da temporada, e o resultado é o que estamos vendo: não
apenas o australiano acabou desalojado da liderança, como agora se vê ameaçado
até mesmo por Verstappen, e se bobear, não apenas dá adeus às chances ainda
viáveis de ser campeão este ano, como pode ver comprometido até mesmo o sonho
do vice-campeonato, o que seria ruim para o time de Woking, que fez sua melhor
temporada em quase duas décadas, mas pior ainda para Piastri, que ao meio do
ano pintava como o grande e talvez até inesperado favorito ao título, e agora,
desandou de forma inexplicável...
As cartas ainda estão na mesa. As de Verstappen estão quase esgotadas, mas ele ainda pode dar alguns sustos; as de Piastri diminuíram, mas ainda estão presentes, cabendo apenas a ele saber armar as jogadas; e Norris agora está com a mão mais recheada, e se mostrando com firmeza no comando do carteado, mas podendo ser surpreendido se não tomar cuidado com alguns reveses e contragolpes, o que ele não só conseguiu evitar nas duas últimas provas como ampliar ainda mais o seu domínio. Ele tem tudo para manter o controle da situação, enquanto aos outros, só resta partirem para o ataque com tudo, se ainda quiserem se manter firmes no jogo. Resta ver agora quem continuará dando as cartas nas partidas finais...
Gabriel Bortoleto foi o palco das atenções da torcida brasileira em Interlagos, que pela primeira vez desde a aposentadoria de Felipe Massa da categoria máxima do automobilismo, tinha um conterrâneo no grid. Mas a participação do piloto da Sauber foi um verdadeiro desastre no fim de semana. Além de não conseguir se classificar bem para a corrida sprint, Gabriel ainda sofreu um forte acidente quando disputava posição ao fim da prova curta, o que comprometeu totalmente sua classificação para a corrida de domingo, só não largando em último porque Esteban Ocón e Max Verstappen largaram dos boxes, mas o acidente comprometeu as chances de conseguir um bom acerto para o carro, o que indicava que sua corrida seria complicada. Mas Bortoleto nem teve chance de disputar a prova no domingo: el acabou se enroscando em um incidente logo na largada, bateu, e ficou por ali mesmo. E viu Nico Hulkenberg chegar aos pontos com um belo 9º lugar na prova, indicando o que poderia ter almejado, não fosse o azar, e seus erros próprios. Melhor sorte no próximo ano. Gabriel não foi o primeiro brasileiro a ter um desempenho pífio e um resultado desalentador na etapa brasileira. Outros brasileiros que não conseguiram ir bem em nossa corrida caseira foram Wilsinho Fittipaldi (1973, com Brabham), José Carlos Pace (1973, com Surtees), Alex Dias Ribeiro (1977, com March), Nelson Piquet (1979, com Brabham), Chico Serra (1981, com a Fittipaldi), Raul Boesel (1982, com March), Ayrton Senna (1984, com Toleman), Maurício Gugelmin (1988, com March), Roberto Moreno (1989, com Coloni), Christian Fittipaldi (1992, com a Minardi), Rubens Barrichello (1993, com a Jordan), Ricardo Rosset (1996, com a Footwork), Tarso Marques (1996, com a Minardi), Ricardo Zonta (1999, com a BAR), Luciano Burti (2001, com Jaguar), Enrique Bernoldi (2001, com Arrows), Felipe Massa (2002, com Sauber), Antonio Pizzonia (2003, com Jaguar), Nelsinho Piquet (2008, com Renault), e Lucas Di Grassi (2010, com a Virgin). Desalentador, mas nada extraordinário. Bola para frente, e que tente terminar o ano com a moral em alta...

Gabriel Bortoleto: pancada violenta no final da prova sprint e novo acidente logo no início da corrida principal no domingo. Uma estréia de impacto, mas não no sentido positivo da expressão...
Reginaldo Leme, que já havia sido homenageado pela FIA anos atrás pela longevidade de presenças em Grandes Prêmios, foi novamente homenageado pelo conjunto de sua obra jornalística em prol da categoria máxima do automobilismo, onde iniciou sua carreira de cobertura no distante ano de 1972: recebeu do próprio CEO da FOM/Liberty Media, Stefano Domenicalli, uma credencial vitalícia que lhe dá acesso a todos os paddocks da F-1 pelo mundo inteiro, caso resolva estar presente a qualquer corrida. Algo que teoricamente ficará mais difícil daqui em diante, uma vez que ele até já formalizou sua “despedida” do GP brasileiro em transmissão televisiva, uma vez que as transmissões da F-1 voltam no ano que vem para a TV Globo, que não irá manter ninguém da atual equipe que cuida das transmissões da competição na Bandeirantes, optando por nomes de seu próprio quadro de funcionários. Como o acordo com a Globo é de 3 anos, válidos até o final de 2028, se não for renovado, Reginaldo deverá deixar de participar em definitivo de transmissões de TV a partir de 2026, até porque o jornalista acaba de completar 80 anos. Reginaldo ainda é editor do anuário Automotor Esporte, que publica desde 1993, e mantém podcasts e postagens em redes sociais, com apresentações solo, ou em parceria com outros profissionais, onde continuará certamente a comentar sobre a F-1, sendo que ele continuará ligado ao automobilismo, muito provavelmente comentando as demais categorias de competição que ainda estarão sob contrato de transmissão da Bandeirantes…
A etapa brasileira da Fórmula 1 bateu seu recorde de público, com mais de 303 mil visitantes no final de semana de GP, durante seus três dias, um incremento de público razoável em relação à marca obtida no ano passado, quando bateu pouco mais de 291 mil visitantes. E o tempo bom ajudou, não tendo chuva durante as atividades do final de semana, embora tenha chovido forte durante a madrugada. Uma marca a ser comemorada, sem sombra de dúvida alguma…

Mais de 303 mil pessoas estiveram em Interlagos no fim de semana de GP: novo recorde de público para a corrida brasileira.
E Franco Colapinto ganhou sobrevida na Alpine, que anunciou aqui no Brasil a renovação do contrato do piloto argentino para a próxima temporada, se bem que, sabe-se lá até quando. Um ponto decisivo deve ter sido o maior aporte do Mercado Livre, empresa de e-commerce, que apóia o piloto argentino, e que nos últimos GPs, vem até estampando a asa traseira dos carros do time francês, indicando que Flavio Briatore provavelmente viu mais esse bônus do que a performance do piloto na pista, em que pese Franco ter tido algumas boas atuações, andando até próximo, ou à frente de Pierre Gasly em algumas provas recentes, embora o carro continue sendo o pior do grid, e não permita muitas satisfações aos pilotos. Especulava-se que Paul Aron já estava sendo fortemente sondado para virar titular em 2026, mas como o piloto não teria conseguido reunir patrocínio suficiente para fazer frente ao que Colapinto traz, ele teria perdido a disputa, da mesma maneira como Jack Doohan até tentou reaver a vaga, e quase teria conseguido, não fosse o aumento do aporte financeiro dos patrocinadores do argentino. Os torcedores portenhos terão motivos para continuar torcendo nas pistas da F-1 no próximo ano, portanto. Contudo, é melhor Franco ficar esperto, porque se outro piloto surgir com mais cacife financeiro, a vantagem que ele dispõe agora pode não ser suficiente para garanti-lo na vaga, e quem conhece o cretino que Briatore é, não poderá deixar de concordar que a manutenção de Franco foi mais pelo patrocinador do que pelo piloto propriamente, sendo que para alguns, a renovação de Colapinto já foi até surpreendente, dado o histórico do dirigente italiano descartar pilotos a seu bel prazer..

